RESPONSABILIDADE SOCIAL: entre a conversa fiada e o fazer responsável Tema 1/6: Direitos Humanos

Muitas empresas empregam os termos Responsabilidade Social e Sustentabilidade. Resta identificar se esses termos transcendem aos mecanismos de gestão da Reputação e Imagem, e abrangem a estrategização e o modus operandi dos negócios.

As lições de casa para as organizações que desejam usufruir da imagem de portador de Responsabilidade Social implicam em alguns requisitos à gestão que atentem à promoção da cidadania, promoção do desenvolvimento sustentável e transparência das suas atividades.

Algumas normas nacionais e internacionais estabelecem parâmetros para se admitir que organizações de todos os portes e setores fazem gestão com Responsabilidade Social. A ABNT NBR 16001/2004 – Gestão de Responsabilidade Social é pioneira na adoção das diretrizes da ISO 26000, a última versa sobre as diretrizes para a RS.

Configuram seis temas centrais para os processos de Responsabilidade Social e suas expectativas relacionadas. Apresentarei nesse texto o tema Direitos Humanos, deixando para as publicações posteriores os demais temas.

  1. Direitos Humanos

Os Direitos Humanos correspondem a todos: é dever do Estado proteger os indivíduos das violações de seus direitos humanos; às empresas compete o respeito aos direitos bem como reparação quando forem infringidos. Dentre as expectativas para as organizações:

  • Integrar a politica de Direitos Humanos por toda a organização. Dentre os itens de diligencia, as atividades extrativas que afetem comunidades ou povos indígenas
  • Atenção para cadeias de valor que envolvam trabalho infantil, trabalho informal e sem proteção legal e trabalho análogo à escravidão.
  • Qualquer forma de cumplicidade (favorecimento de um ato ilegal ou omissão) relacionada a violação de Direitos Humanos deve ser combatida.
  • Prever o combate a discriminação (qualquer distinção, exclusão ou preferencia que anule a igualdade de oportunidades) e também a consciência e possível inclusão de grupos vulneráveis. Dentre as bases ilegítimas de discriminação estão raça, cor, gênero, idade, religião, etnia, deficiência, gravidez, filiação sindical.
  • As organizações devem respeitar todos os direitos civis e políticos dentre os quais: a vida, a liberdade de opinião e expressão, liberdade de reunião pacífica e de associação.
  • Que as medidas disciplinares não incluam punição física e tratamento desumano.

Essas expectativas parecem simples e essenciais, porém, ainda encontramos empresas pouco responsáveis.

Vamos a prova real:

  • Quantas organizações correspondem integralmente aos critérios relacionados aos Direitos Humanos?
  • Quantas bradam aos quatro ventos que são sustentáveis mas…
  • Quantas organizações (detentoras das marcas mais populares ate as mais luxuosas) operam com sweatshops?
  • Por quantas vezes fomos surpreendidos quando sabemos que:
    • O saboroso chocolate que se consome tem o gosto amargo do trabalho infantil ainda na produção de cacau;
    • A roupa bacana que se veste foi confeccionada por mulheres em regime análogo ao de escravo em porões fabris;
    • Os tênis das confortáveis caminhadas foram fabricados em condições desumanas e insalubres por pessoas que ganham menos de um dólar por dia de trabalho.
    • O cigarro vem de uma cadeia produtiva altamente tóxica, que expõe adultos e crianças ao flagelo do corpo em propriedades de fumicultura.
    • Nossas sofisticadas tecnologias em algum lugar do mundo operam com trabalho escravo, em fábricas com instalações precárias e péssimas condições de trabalho.
  • Quantos empresas adotam discursos sobre ecletismo mas têm gestores incapazes de lidar divergências de ideias. Ecléticos de uma teoria só…
  • E a tal diversidade monocromática, homofóbica e misógina de sempre?
  • E quantos gestores balbuciam frases prontas sobre os Direitos Humanos, mas plantam segregação com piadas de mau gosto nas redes sociais.
  • E os incontáveis elementares que de maneira pejorativa alegam “mimimi” para os temas relacionados à justiça social, direitos humanos, igualdade dentre outros assuntos que exigem mais do que uma visão excêntrica sobre o mundo – portadores do blá blá blá
  • Quantas organizações posam entre melhores e mais bonitinhas para se trabalhar enquanto funcionários adoecem em relações de trabalho cada vez mais atrozes e desumanas?
  • O que dizer daquelas empresas com dirigentes que assumem “triturar gente” mas pagar bem por isso.

Nem tudo está perdido, por outro lado, temos boas organizações para se trabalhar no que tange aos Direitos Humanos. Indico algumas pistas para encontrá-las:

  • Essas empresas têm executivos éticos, pessoas com princípios;
  • Concentram a gestão com as pessoas e para as pessoas;
  • Têm baixa rotatividade, mesmo em setores de elevados índices de turnover;
  • As pessoas moralmente gostam do que fazem e se sentem valorizadas não apenas no holerite, mas também nas relações humanas com pares e superiores;
  • Dirigentes fazem escolhas estratégicas considerando os riscos para os funcionários e para as comunidades envolovidas;
  • Mais do que filantropia, cuidam das pessoas de seu entorno como se fossem vizinhos;
  • Mais do que distribuir presentes na véspera do Natal, essas empresas estabelecem politicas de inclusão socioeconômica de grupos em situação de vulnerabilidade;
  • Seus gestores não são coniventes ou omissos com players da sua cadeia produtiva que ferem aos Direitos Humanos – estabelecem requisitos também fundados nesses princípios aos seus fornecedores;
  • Têm pessoas altruístas em todos os níveis e posições organizacionais em lugar de portadores de comportamento psicopático;
  • Essas organizações alinham-se com diretrizes globais de RS e Sustentabilidade como por exemplo, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, assumindo compromissos estratégicos e práticos com a economia, sociedade e meio ambiente;
  • Têm resultados positivos porque geram valor para os negócios e para a sociedade;
  • Mais do que bradar sustentabilidade, são sustentáveis e responsáveis.
  • Algumas operam em acordo com a NBR 16001 e ISO 26000.

Destaco aqui, o papel que cada indivíduo tem na diligência com os Direitos Humanos de todos, visto que estes são universais: eu, você, o “Outro” têm direito à vida, à dignidade, à igualdade.  As empresas têm o dever de respeitar e fazer cumprir os Direitos Humanos: não se trata de bondade ou benesse é questão Ética.

Empresas que infringem os Direitos Humanos deveriam ser severamente punidas pelo Estado e pelo mercado. Há um longo caminho a percorrer, especialmente entre a sociedade que consome e as organizações – a legitimidade das práticas organizacionais precisa servir de parâmetro para as novas relações de consumo, sob pena de continuarmos banalizando injustiças sociais.

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